terça-feira, 27 de maio de 2014

Bancos centrais "têm de ser agressivos" para evitar "armadilha da baixa inflação"

Publicado no Jornal de Notícias de 27 de Maio de 2014





O prémio Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, defendeu, esta terça-feira, em Sintra, que os bancos centrais "têm de ser agressivos" e "não apenas prometer" para evitar a "armadilha de baixa inflação", como aconteceu no Japão.
foto Julio Cesar Aguilar/AFP
Bancos centrais "têm de ser agressivos" para evitar "armadilha da baixa inflação"
Paul Krugman

"Os bancos centrais têm de não apenas prometer, mas precisam de agir efetivamente e de ser agressivos", disse o economista norte-americano numa conferência internacional organizada pelo Banco Central Europeu (BCE), que decorre em Sintra.
"Se esperam que haja um aumento da inflação, esse aumento tem de ser suficientemente elevado para produzir pleno emprego", considerou ainda, interrogando se a queda dos preços é temporária ou permanente.

O Nobel da Economia considerou que os bancos centrais "estão em negação" ao acreditarem que o pleno emprego é possível com uma inflação de 2%, defendendo que essa taxa "tem de ser maior".

Paul Krugman tem vindo a defender uma inflação mais alta na zona euro, considerando que se deve abandonar a política de baixa inflação e questionando a "misteriosa doutrina" dos 2%. O BCE tem como mandato manter a inflação próxima, mas abaixo deste valor no médio prazo.

"Se os 2% era uma boa meta nos anos 1990, hoje já não é", afirmou o Nobel da Economia.

Krugman tem afirmado também que a zona euro está numa armadilha de liquidez, uma vez que a procura privada é fraca e que mesmo com taxas de juro próximas de zero as despesas estão aquém do necessário para o pleno emprego.
Na sua intervenção, Paul Krugman considerou que há semelhanças entre a situação da zona euro e a que o Japão vive há vários anos, contestando a posição da instituição de Frankfurt.

Recordando que o presidente do BCE, Mario Draghi, tem referido que "a deflação é uma queda prolongada dos preços em diferentes bens, setores e países" e que a instituição não vê isso em qualquer país, Krugman ripostou: "Bem, também não vimos isto no Japão e, no entanto, consideramos que eles tiveram um problema de deflação".

Para o economista norte-americano, "a melhor maneira de lidar com este problema [deflação] é não nos colocarmos lá em primeiro lugar", acrescentando que é preciso "um processo de reponderação".

A deflação é um problema quando se torna persistente, já que a descida continuada dos preços faz com que os consumidores adiem as decisões de consumo, na expectativa de que os preços caiam ainda mais. Ao mesmo tempo, também as empresas adiam as decisões de investimento, o que tem impacto no crescimento económico e no desemprego, referiu.

Já durante o debate com a audiência, o antigo economista-chefe do BCE Otmar Issing considerou que se há uma questão de credibilidade em relação à meta da inflação, talvez o melhor fosse descer o referencial em vez de o subir, estando as taxas tão baixas.

Além disso, o economista alemão contestou a ideia de que não há flexibilidade salarial na Europa.

Em resposta, Krugman afirmou que cortes salariais "quase só ocorreram no setor público", e não no privado, durante esta crise. Com exceção da Grécia, disse, não viu cortes salariais nominais em outros países.

Por outro lado, ainda na sua intervenção, Paul Krugman considerou que a "redução da população ativa nos Estados Unidos, zona euro e Japão é uma política de austeridade natural", reiterando que a demografia é "uma questão-chave no mundo desenvolvido, dada a redução significativa da população ativa".

A taxa de inflação na zona euro fixou-se nos 0,7% em abril, contra 0,5% em março, mas um valor inferior aos 1,2% registados há um ano.

Um aumento da meta da inflação da zona euro é contestada sobretudo na Alemanha, devido aos fenómenos de hiperinflação que experienciou na década de 1920.

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